Resultados da sondagem sobre a Quinta dos Ingleses
A Associação SOS Quinta dos Ingleses promoveu uma sondagem, entre novembro de 2022 e fevereiro de 2023, que visou recolher a opinião dos cidadãos do concelho de Cascais, bem como da área metropolitana de Lisboa, sobre a paisagem da Quinta dos Ingleses, o seu significado e valor de uso, incluindo ainda o seu ponto de vista quanto ao destino que a Câmara Municipal de Cascais pretende dar-lhe.
O inquérito integrou 28 questões de resposta direta e/ou escolha múltipla, algumas das quais com a possibilidade de inserir comentários textuais suplementares, sendo ainda possível registar comentários finais. Foi tornado público através das redes sociais e do website da SOS Quinta dos Ingleses (sosquintadosingleses.com), tendo obtido um total de 1354 respostas.
Com base nos resultados, foi possível extrair informações relevantes para a associação sobre o universo dos inquiridos. Assim, 99,2% destes são adultos (apenas 0,8% têm idade inferior a 18 anos), 73,3 % (cerca de dois terços) são munícipes de Cascais, 12,5% moram no concelho de Oeiras e 14,2% em outros concelhos, podendo inferir-se que a Quinta dos Ingleses é também conhecida e frequentada por residentes fora do concelho de Cascais.
Floresta Centenária
A partir deste inquérito, é possível deduzir uma expressiva e inequívoca manifestação de interesse pela conservação da floresta centenária da Quinta dos Ingleses: 97,2% dos inquiridos (1348 respostas) reconhecem a Quinta dos Ingleses como um valor ambiental ativo, sem prejuízo de alguns problemas assinalados, como sejam a degradação do espaço biofísico e paisagístico — as casas em ruínas, o mau estado de algumas árvores ou a falta de segurança que decorre da utilização do espaço da Quinta dos Ingleses por toxicodependentes e/ou delinquentes.
A identificação da Quinta dos Ingleses como valor ambiental é independente do reconhecimento do seu significado histórico. A resposta à questão "Conhece o valor histórico da Quinta dos Ingleses?" (1347 respostas) devolveu 79,1% de "sim" e uma minoria, pouco significativa de "não", ou seja, 20,9%. Por valor histórico considerou-se o conhecimento do seu passado como unidade de produção vitivinícola dos morgados da Alagoa, o seu papel na defesa da zona costeira, no contexto das invasões francesas, ou no apoio militar no âmbito da guerra civil de 1827-1832 ou, ainda, a sua importância no lançamento das comunicações telegráficas via cabo submarino pelos ingleses que a adquiriram.
Atividades na Natureza
O reconhecimento do valor ambiental da Quinta dos Ingleses não traduz necessariamente uma relação de uso, de onde se depreende que, para muitas pessoas, o ambiente é um valor intrínseco que não depende de utilidades práticas. Com efeito, a resposta à questão "Já fez alguma atividade com a escola ou em família na Quinta dos Ingleses?" (1344 respostas) obteve 72,6% de "sim", enquanto 27,4% dos inquiridos respondeu "não".
Já a caracterização dos usos do seu espaço natural foi elaborada a partir de 1210 respostas válidas à questão seguinte: "Se costuma frequentar a Quinta dos Ingleses, que atividades prefere fazer?" Estão entre as atividades mais citadas aquelas que são permitidas por um espaço natural: caminhar (69,6%), andar de bicicleta (13,1%), passear o cão (10,4 %). Sob a rubrica "Outras" (6,8%), foram enunciadas sobretudo as seguintes atividades: corrida, observação de natureza (fauna, flora), meditação, relaxamento e repouso, fonografia/fotografia, colheita de frutos silvestres, pinhas, cogumelos e flores, brincadeiras com as crianças, convívio com amigos e família, piqueniques e, ainda, apanha de lixo. Também se obtiveram algumas respostas de tendência utilitária, ou seja, alguns dos inquiridos mencionaram utilizar a Quinta dos Ingleses como meio de acesso à praia e/ou de estacionamento automóvel. Com a perspetiva futura da construção de uma escola da floresta, 70,3% (948) dos inquiridos têm conhecimento da utilização regular da Quinta por algumas escolas de Carcavelos para atividades na natureza e como sala de aula ao ar livre, pelo que se verifica que, atualmente, está a ser frequentada com esse propósito.
Considerando-se de grande importância refletir acerca das interpretações das pessoas quanto ao tema da segurança no usufruto da Quinta dos Ingleses, o inquérito procurou avaliar o que pensam os cidadãos sobre ser "um local perigoso para passear". Obtiveram-se 1345 respostas válidas, das quais 82,2% responderam "não", 8,7% "sim" e 9,1% "sem opinião formada". Analisando os que responderam "sim", constata-se que os problemas de insegurança não são intrínsecos ao espaço natural da Quinta em si, mas aos "maus usos" ou "usos desviantes" (consumo de estupefacientes, delinquência, prostituição), a somar à degradação física do local (uso da propriedade como lixeira ilegal, degradação e abandono da mata, falta de planeamento e conservação da paisagem).
Urbanização e impacto ambiental
O inquérito pretendeu igualmente aferir qual o grau de conhecimento e adesão dos cidadãos relativamente ao projeto de urbanização da Quinta dos Ingleses, aprovado e promovido pela Câmara Municipal de Cascais.
Das 1351 respostas válidas, 89,8% dos inquiridos afirma conhecer "o que está planeado para a Quinta dos Ingleses (Plano de Pormenor do Espaço de Reestruturação Urbanística para Carcavelos Sul – PPERUCS)", contra apenas 9,5% que afirmaram não conhecer o destino previsto para esta unidade paisagística. Contudo, apenas 57,7% sabe que os promotores são a construtora Alves Ribeiro e a St. Julian’s Association.
Já quanto à concordância em relação ao PPERUCS, 90,6% dos inquiridos responderam "não", contra uma minoria muito escassa de apenas 3,6% que respondeu "sim", não tendo o remanescente uma opinião formada. A destruição da Quinta dos Ingleses irá provocar uma alteração significativa na paisagem de acordo com 91,6% dos inquiridos, que consideram que a praia de Carcavelos vai ser de alguma maneira afetada pela modificação drástica dos solos, se a urbanização se concretizar.
Paisagem Protegida
Relativamente à recomendação parlamentar para que a Quinta dos Ingleses seja classificada como Paisagem Protegida de Âmbito Local, 60% considera ter conhecimento da mesma; 95,2% dos inquiridos respondeu concordar com esta proposta de classificação, apenas 4,8% discordando da mesma, o que expressa o sentido comum em favor da sua conservação e do reconhecimento público do seu interesse e valor patrimonial. O campo para a justificação da não concordância foi utilizado não apenas para as opiniões contra, mas também a favor da referida classificação, denotando no geral alguma desinformação do público no que se refere a esta matéria.
Tendo em consideração a necessidade de mobilizar meios materiais para pôr em prática a conservação da Quinta dos Ingleses, foi perguntado aos inquiridos se tinham conhecimento da existência de fundos de financiamento comunitários disponíveis para esse fim, caso a Quinta dos Ingleses seja classificada como Paisagem Protegida de Âmbito Local e o PPERUCS seja revogado. Das 1349 respostas a esta questão, 79% dos participantes revelaram não saber da existência desses fundos, contra apenas 21% que afirmaram conhecer a possibilidade de a eles se recorrer.
Relativamente à eventual indemnização pecuniária aos proprietários e detentores de direitos sobre a Quinta dos Ingleses, verificaram-se 86,2% de respostas favoráveis, num universo de 1323 respostas válidas. Já 13,8% dos inquiridos opõem-se à ideia de indemnização, por razões tão diversas quanto não ter de se indemnizar quando está em causa o ambiente; os direitos adquiridos não se deverem sobrepor aos direitos da população; serem antes a favor de permuta; colocarem em causa a legitimidade de todo o processo de urbanização; serem contra o conceito de expropriação; ou considerarem que a construção na linha de costa deve seguir as orientações nacionais.
Quanto às ações de defesa da Quinta dos Ingleses, nomeadamente às iniciativas dos movimentos que defendem este património ambiental, SOS Quinta dos Ingleses, Alvorada da Floresta e Fórum por Carcavelos, em 1333 respostas, 86% dos inquiridos considera que estas estão a ter algum impacto para a preservação deste espaço, contra 14%, sendo as formas de contestação consideradas mais eficazes os protestos/manifestações (43,7%), seguidos da divulgação nas redes sociais (33,1%), do crowdfunding para aquisição da Quinta dos Ingleses (13,1%) e de outras formas (10,1%), como o envolvimento de entidades políticas e ambientais, o recurso a instâncias europeias, a realização de eventos didáticos e culturais, a divulgação nas ruas de Carcavelos e a ação judicial.
Parque Urbano
Por fim, pretendeu-se saber se os participantes deste inquérito são sócios, voluntários ou participantes dos movimentos acima mencionados, e a resposta negativa por parte de 57,2% das 1347 respostas demonstra que deste número apenas 576 pessoas (42,8%) estão diretamente ligadas à defesa ativa da Quinta dos Ingleses, concluindo-se que, apesar do não envolvimento ativo da população (por falta de disponibilidade, por desconhecimento, por questões familiares/profissionais ou pela distância, entre outros motivos), há uma opinião generalizada de que a Quinta dos Ingleses deve ser preservada, sendo que 84,5% defende a criação de um parque urbano e apenas 1,1% (15 respostas em 1336) a urbanização; os restantes 14,4% prefeririam, na sua maioria: um parque natural ou com natureza selvagem; nenhuma intervenção; um espaço de permacultura ou horticultura; um polo cultural e artístico; um solução equilibrada de construção e área naturalizada; infraestruturas públicas de lazer, ecologia e desporto; parque urbano com projetos ecológicos e sustentáveis ou ecovila.